- A quanto tempo não nos vemos...-Ele ficou irônico, e riu
como se já tivéssemos nos visto antes. Aumentou o tom de voz-SAFIRA!
Franzi a testa a fim de averiguar se eu tinha ouvido direito.
O meu nome não era Safira, e também não seria possível ele dizer o meu
verdadeiro nome, já que tínhamos acabado de nos conhecer.
- Você deve estar me confundindo com outra pessoa, garoto. Eu
não me chamo Safira- Respondi educadamente, era normal confundir as pessoas,
acontece.
- Não pense que eu sou idiota Safira! Eu sei que é você!- Ele
insistiu.- Você continua com a mesma cara cínica e a mesma voz irritante!
- Eu já disse que eu não sou a Safira! O meu nome é Agnes! E
eu nem sou daqui, estou te conhecendo agora!- Eu já estava ficando sem
paciência. Quem era ele para me chamar de cínica e dizer que a minha voz é
irritante? Se eu era parecida com aquela tal de Safira, a culpa não é minha!
Ele levantou o meu queixo para me olhar com mais precisão. O
modo grosseiro com que ele lidou com o meu corpo fez o meu pescoço doer. Virou
de um lado, e depois do outro. Logo, senti-o pegar uma mecha do meu cabelo e
pensar.
- Tem alguma coisa errada com você Safira. O seu cabelo está
com uma cor muito feia e estranha... Acho melhor você lavar, deve estar sujo de
alguma coisa!
- Quem você pensa que é para falar do meu cabelo, idiota?!-
Eu havia chegado no limite´- Eu dou hidratação três vezes por semana! O meu no
me é Agnes! Ag-nes!
- Realmente, agora percebi que você não é mesmo a Safira! Ela
é muito mais educada!- Ele deu um sorriso safado- E mais bonita também!
- Olha, engraçadinho, eu não vou mais perder o meu tempo
discutindo com você!- Respirei fundo- Agora que você finalmente entendeu que eu
não sou essa Safira, vamos por favor ter uma conversa civilizada?
Ele assentiu com a cabeça.
- Como você...- Antes que eu pudesse terminar a frase, escutei
o barulho de uma grande explosão.
Eu e o garoto olhamos para onde havia surgido aquele som. Um
monstro com a forma de uma cobra, uma cobra gigantesca, rastejou cuspindo fogo
em minha direção, e, ao cuspir pela primeira vez, todo o meu campo de visão foi
dominado por uma fumaça. Os meus olhos começaram a arder, e lágrimas começaram
a brotar. Ainda assim resolvi mantê-los abertos quando escutei uma voz
feminina.
- Um fragmento da pedra sagrada, eu sinto a sua presença, ele
está aqui!- Uma mulher de cabelos curtos, com metade da face coberta por
chamas, estava montada encima do réptil. Ela olhou para mim, e sorriu
maliciosamente- Vamos Taipan, agora sei exatamente onde ele está!
- Eu não sei do que você está falando, moça, eu não tenho
fragmento nenhum! – Eu estava desesperada.
Não sabia porque ela havia olhado para mim daquele jeito, eu nunca nem
havia ouvido falar daquela pedra sagrada! Certamente eu iria morrer queimada
por aquela cobra chamada Taipan.
- Não tente me enganar, eu sei que ele está com você!- A
cobra começou a ir em minha direção, e eu sentia a minha morte chegar cada vez mais perto.
Estava fechando os olhos quando senti os dedos do rapaz da árvore em meu ombro.
- Retire a flecha.- Ele me olhou sério.
- Mas não vai doer? Você vai sentir muita dor se eu tirá-la
assim , é melhor eu não...
- Vamos logo, Idiota, retire logo essa merda!- Ele gritou
irritado e eu obedeci à sua ordem. Assim que retirei a flecha, senti uma forte
energia saindo de dentro dele. Ele ganhou mais força, e suas garras ficaram
extremamente afiadas. – Prepare-se para morrer, ser imprestável!
- Ora se não um mísero híbrido se achando o poderoso!- A
garota riu.- Não tente brincar comigo, eu posso facilmente te matar!
- Isso é o que vamos ver...- Ele respondeu- Menina, saia
daqui. Não me atrapalhe.
Ele ordenou que saísse, e eu obedeci, correndo para dentro da
floresta. Subi encima de uma árvore alta e me escondi entre as folhas verdes.
Eu comecei a chorar. Eu não achava que ele fosse sobreviver, e se ele
morresse, eu iria morrer. Eu também não podia descartar a grande possibilidade
de ele me largar sozinha naquela floresta escura. Tudo o que eu queria era
voltar para casa.
****************************** A A grande e escamosa serpente
começou a atacar. o corpo do garoto queimava a medida que cada raio de fogo
atingia a sua pele. Mas ele não parecia cansado em nenhum momento, e nem sentir
a dor que qualquer ser humano sentiria se estivesse em seu lugar.
Akira não iria desistir de lutar com Oliver para depois
conseguir o fragmento de joia que estava dentro do corpo de Agnes. Ela queria
ficar mais forte. Não estava satisfeita com o seu poder, queria ter mais força.
Queria ser ainda mais forte que a serpente, a sua fiel companheira.
Oliver sentiu cada
osso de seu corpo ser esmagado, como se estes fossem feitos de vidro e alguém
tivesse o atingido com o mais forte martelo. Taipan o enroscava com força e ele
estava ficando com falta de ar. Mas nem pensar, ele não podia morrer ainda. Ele
não ia morrer de jeito nenhum.
Oliver jamais aceitaria ter a mesma fraqueza de um ser humano
insignificante . Além disso, ele tinha que descobrir onde exatamente estava o
fragmento da pedra sagrada. “ Mas porque diabos essa dakarian fala de
fragmento? Até onde eu sei a pedra sagrada estava completa!” pensou.
- Vamos parar com essa brincadeira!- Oliver afiou as suas
garras e com um único corte, reduziu Taipan a pedaços. Um mar de sangue de cor
preta se formou ao redor do corpo morto da serpente, a cor escura deveria ser a
fonte de seu poder. Gotas negras sujaram o rosto do garoto, e ele limpou com a
mão esquerda, em seguida lambendo os dedos sujos. Fazia muito tempo que Oliver
não lutava, e sentir o gosto de uma batalha depois de quarenta anos lacrado em
uma árvore era uma sensação muito prazerosa.
- Taipan!- A mulher estava desesperada, com lágrimas nos
olhos. Ela foi até o corpo sem vida da serpente esquecendo que ainda havia um
oponente que poderia matá-la bem na sua frente. Encostou a testa na cabeça da
serpente, demonstrando a sua tristeza em perde-la. Ela olhou enfurecida para
Oliver- Miserável, eu não vou te perdoar!
Agora ela não estava mais triste, mas sim furiosa. Uma forte
energia maligna começou a emanar de seu corpo, e um brilho de cor azul saía de
sua testa. Em poucos segundos a cor de céu daquela luz ficou negra como a
noite. O poder do fragmento que estava em seu corpo estava se manifestando, e o
mesmo cada vez se corrompia à medida que Akira ganhava mais força. Os olhos da dakarian ficaram de um violeta
intenso, os cabelos, maiores.
- Se você ir em bora daqui agora mesmo, eu posso poupar a sua
vida.- Ele disse, parecendo abaixar a guarda. Oliver não estava temendo a
transformação de Akira. Ela era uma dakarian muito fraca em sua forma original,
e o poder de apenas um fragmento não iria fazer muita diferença para ele, que
era de linhagem nobre. -Saia e não volte nunca mais.
- Eu vou vingar a morte de Taipan! Eu não vou sair daqui até
ver o seu corpo nojento no chão, assim como você fez com ela!- Akira estava
cega pelo ódio. Ela queria vingar a morte de Taipan custe o que custasse. Ela
não estava mais preocupada com pegar o fragmento da garota ruiva, matar aquele
híbrido maldito era muito mais importante.
A garota de olhos violeta avançou em direção ao híbrido, em
alta potência e velocidade. Ela também detinha o poder do fogo como Taipan, mas
não tinha força o suficiente para derrotar Oliver. Ela tentava atingi-lo com
seus golpes, mas o híbrido era bem mais rápido e desviava com facilidade. Akira
já estava ofegante. “ Porque não consigo matar aquele híbrido maldito?”
-Vamos, desista. Não vou te matar se você se render.- Oliver
já estava cansado daquela luta, não valia a pena perder seu tempo com uma
dakarian tão fraca como aquela. Mas aí ele começou a se perguntar porque o
poder dela havia aumentado tanto de uma hora para outra-Você ficou mais forte,
am? Por acaso você também tem um fragmento da pedra?
Mesmo ela não tendo confirmado com palavras que estava com um
fragmento de joia, Oliver tinha certeza. Agora, poupar a vida daquela dakarian
de fogo não era mais vantajoso para ele. Já que ela jamais iria aceitar dar o
fragmento, ele teria que matá-la para pegá-lo.
E assim ele fez.
Quando estava no momento de suas últimas palavras, Akira
tinha o seu pescoço segurado brutalmente pelas mãos rígidas do garoto. Ela
estava sendo erguida por Oliver como se fosse um pedaço de bambu, preste a ser
quebrado.
- Vamos, diga-me onde está o fragmento!- Oliver já estava
impaciente. Chacoalhou a garota com força por ter a sua ordem não obedecida-
Vamos, maldita, diga!
- Ele está...- Akira sabia que aquela seria a última que
poderia respirar. Com os pulmões já chiando, continuou- No olho direito.
Oliver jogou o corpo sem vida da
dakarian no chão como se fosse nada. Não estava se sentindo nem um pouco
culpado pela morte dela, só queria sair dali e achar a garota de cabelos de
fogo. Quando ia dar os primeiros passos para sair do local, lembrou que havia
esquecido uma coisa importante. Arrancou o fragmento da testa de Akira e deixou
que o seu sangue morto colorisse a grama verde da floresta.
#Agnes#
A noite já havia caído e ele estava demorando muito. Na
verdade, eu já estava começando a pensar que demorar já não era a palavra
certa. Quem morre não demora para chegar. Simplesmente já foi, e não voltará
mais.
Eu estava com muita fome e frio. Os meus ossos estavam
congelando, e eu estava com medo de sair do meu esconderijo naquela escuridão
para procurar comida. Se eu encontrasse outro monstro como aquele não haveria
ninguém para me proteger.
- Ei garota- Uma voz familiar chamou a minha tenção e
imediatamente ao ouvi-la o meu coração se encheu de alívio. Olhei para baixo e,
com a pouca luminosidade que havia, pude identificar que o garoto estava vivo.
- Graças a deus você está vivo!- Desci da árvore e o abracei,
emocionada. Eu não iria suportar que ele tivesse morrido ao tentar me salvar.
- Eu não sou fraco como vocês humanos. Foi muito fácil acabar
com aquele dakarian insignificante.- Ele respondeu me afastando do abraço.
Percebi que ele estava um pouco corado, que fofo!
-Você ainda não me disse o seu nome!- disse a ele.
- Eu me chamo Oliver.- Ele respondeu e eu fiquei surpresa ao
ver que ele tinha um nome que combinava tanto com ele. Eu não gostava do meu
nome, achava que não tinha nada a ver comigo.
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas ouvindo o som do
vento quando balançava as folhas das árvores e o barulho dos animais da
floresta. Eu fiquei perdida na cor daqueles belos olhos, que ficavam ainda mais
lindos quando a luz da lua resolvia brincar com eles.
- Você deve estar cansada. Claro, vocês humanos são muito
fracos, se cansam e se machucam com qualquer coisa insignificante. Vamos, tem
um vilarejo aqui perto. Torça para que um dos aldeões deixe você se hospedar em
sua casa. – Ele quebrou o silêncio, ordenando para que eu o seguisse.
*********************************
Depois de uma longa caminhada Agnes e Oliver chegaram no tal
vilarejo. A menina já estava ofegante pois para ela não era nada perto, como o
dakarian havia dito. Ela parou para respirar e ele a olhou incrédulo.
- Vamos logo! Foi só uma caminhada de nada!- Ele já estava
impaciente. Como aquela menina era fresca! Não foram nem dez quilômetros
andados!
- F-Fale por você!- Respondeu a ruiva, ainda cansando. Ela
mudou de uma expressão irritada para apavorada.- Oliver, atrás de você!
Quando o garoto de olhos âmbar virou-se para ver o que era,
haviam dezenas de aldeões armados com lanças preparados para ataca-lo.
- Você não é bem vindo aqui!- Uma mulher grisalha,
aparentando ter setenta anos de idade exclamou com raiva saindo pelos olhos. –
Vá embora e nunca mais volte, Oliver!
Agnes não estava entendo nada. Se ele disse que a levaria
para aquele vilarejo, obviamente ele seria bem-vindo naquele lugar.
-Vocês devem ter ficado malucos, eu sempre vim aqui para
visitar a Safira e sempre fui muito bem recebido! Além do mais, quem você pensa
que é para dirigir a palavra desse jeito a mim, velha!?-Ele respondeu
indignado. O que havia dado na cabeça daqueles aldeões? E quem era aquela
velhota atrevida? Ele não lembrava de tê-la visto das outras vezes que fora
àquele vilarejo.
- Ora, Ora, você não está me reconhecendo... Os anos que
passaram me fizeram mudar tanto assim? –A velha riu, de modo irônico. Ela
dividiu os cabelos grisalhos em duas partes e em cada um dos lados da cabeça
fez um coque, o penteado que costumava usar durante a infância. Em seguida
disse- “Tio Oliver, os peixinhos gostam de nadar nas águas mais fundas do rio!”
Oliver franziu a testa. Quando ele tinha ouvido aquela frase?
Depois de muito esforço, conseguiu achar a resposta em suas memórias.
- Camélia? É você mesmo? Você é mesmo aquela menininha, a
irmã mais nova da Safira?-Oliver finalmente tinha se lembrado. Mas como aquela
pequena garotinha havia envelhecido tanto, em tão pouco tempo?
Camélia assentiu em sinal afirmativo.
- Então, se você está assim, a Safira deve estar uma velhota
também. Humanos fracos, envelhecem em tão pouco tempo! Onde ela está?- Oliver
riu, debochado. Agnes apenas observava tudo em silêncio.
- A minha irmã morreu há sessenta anos. – Camélia abaixou a
cabeça, ficando em silêncio por um tempo. Oliver estava sem entender.- Fico
surpresa em você me perguntar isso, já que você invadiu o vilarejo no dia que
ela morreu. E destruiu tudo.
OIiver novamente estava confuso. Tentava buscar na parte mais
profunda de sua mente uma lembrança de ter destruído aquele vilarejo, mas não
conseguia encontrar nada. A única coisa da qual conseguia se lembrar era de
Safira puxando o arco e lançando aquela flecha em seu coração.
Mas ele não iria discutir agora. Tinha que achar algum lugar
para aquela garota de roupas estranhas ficar. Não sabia porque mas sentia um
instinto enorme de protegê-la, mesmo ela sendo desconhecida. E o mais
importante. Tinha que arranjar um jeito de retirar o fragmento da pedra sagrada
do olho direito de Agnes.
Ele sabia que ele mesmo poderia retira-lo com suas próprias
mãos, no entanto, implicaria machucar a garota de cabelos ruivos. Machuca-la
era algo que ele nem mesmo sabia o motivo, mas era incapaz de fazer.
-Eu não me lembro de ter feito nada disso. E caso eu tenha
mesmo feito aquilo, eu estava fora de consciência. – Ele se justificou. Camélia
e os outros o olharam sérios.- Eu queria pedir para que deixem essa garota
viver aqui. Ela veio de muito longe, e não vai conseguir sobreviver na floresta
por muito tempo.
Camélia somente agora havia reparado a presença da garota.
Quando olhou para o rosto de Agnes e a combinação que os olhos verdes faziam
com o nariz fino e a boca carnuda, arregalou os olhos " Essa garota é idêntica a minha irmã Safira.” Ela sentiu uma
forte energia emanar do corpo da ruiva “ Eu sinto a presença de um fragmento da
pedra sagrada em seu olho direito”
- Ela pode ficar aqui, mas vai ter que ajudar nos afazeres da
aldeia.- Camélia falou e todos concordaram. “ Essa garota carrega os mesmos
poderes espirituais da minha irmã, isso não pode ser possível!”
- Eu posso ajudar nas tarefas da casa em que ficarei!- Agnes
resolveu se pronunciar. Tinha que manter uma boa impressão para que a deixassem
ficar ali. Não que ela realmente quisesse passar o resto da vida naquele lugar,
mas porque não sabia quando poderia voltar para casa. Se poderia voltar para
casa.
- Então está decidido. Você vai ficar na minha casa, ouviu
bem, mocinha?- Camélia abandonou aquela expressão séria para um sorriso acolhedor.
Já tendo o principal problema resolvido, Oliver foi descansar
encima de uma árvore alta. O garoto estava pensativo, e também muito abalado.
Não fazia ideia da morte de Safira. Antes de saber da morte da garota, estava
alimentando uma raiva dentro de si, por ela tê-lo lacrado sem nenhuma razão.
Eles tinham tantos sonhos juntos... Porque eles foram destruídos tão
rapidamente?
Flashback
-Não vejo a hora de poder usar a pedra e me tornar uma humana como
qualquer outra.- Safira encostou a cabeça no peitoral do amado. Os dois estavam
sentados naquela mesma árvore, Safira entre as pernas de Oliver. O garoto de
olhos âmbar afagou a cabeça da jovem sacerdotisa.
- Você não gosta dos seus poderes? Porque quer se tornar um humano
comum?- Oliver não entendia porque a amada queria se tornar uma pessoa como
todas as outras. Será que ela não conseguia entender que ela era superior aos
outros seres humanos?
- A minha vida foi feita para ajudar as pessoas e resolver os seus
problemas. Curar doenças, afastar maus espíritos, purificar almas, curar
feridas de fugitivos de guerras...Eu nunca tive tempo para mim mesma. Eu nunca
pude fazer o que eu gostava o que me fazia bem. Sempre tive que colocar os
outros em primeiro lugar, porque essa é a missão de uma sacerdotisa. É para
isso que eu vim para este mundo.
- Hummm...- Oliver murmurou. Safira sorriu e se virou ficando de frente
para ele.- O que foi?
-Tem outro motivo pelo qual eu quero me livrar dos meus poderes...-
Safira selou seus lábios nos do garoto- Se eu continuar tendo que ajudar as
pessoas sem parar, que tempo eu vou ter para cuidar do meu marido e dos meus
filhos na minha vida de casada?
-Filhos...-Oliver não gostava de ouvir aquela palavra. Não que ele não
quisesse ter filhos, claro que queria. O problema é que esses filhos seriam
como ele. Híbridos rejeitados tanto pelos dakarians quanto pelos humanos.
Criaturas que sofreriam preconceito e discriminação pelo resto da vida.
- Eu sei o que você deve estar pensando. Por isso, eu tenho uma pergunta
a lhe fazer...-Safira começou.
- Pode perguntar- Disse Oliver.
- A pedra sagrada também poderia te transformar em um humano. Você se
tornaria um humano por mim?
Aquela pergunta era difícil de responder. O que Oliver realmente queria
não era virar um humano. Ele queria virar um dakarian completo, como seu pai e
seu irmão. Desse modo, ele nunca mais seria inferiorizado por ninguém em sua
vida.
- Sim...- Foi o que disse.
*********************************
- Nossa, como a Safira está demorando... Nós marcamos de nos encontrar
aqui!- Oliver estava impaciente, encostado à uma bela árvore de pinheiros. Era
naquele dia em que Oliver tomaria uma decisão que mudaria a sua vida para
sempre. Ele se tornaria humano usando a pedra sagrada.
Ele sabia que seria irreversível, mas ele iria fazer aquilo pela
felicidade com a mulher que amava. A única que o amou. Sabia que ela não
suportaria ver os filhos sendo discriminados e maltratados tal como ele fora
durante toda a sua infância. Sabia que se continuasse do jeito que era, Safira
seria infeliz. Oliver não aguentaria ver a sua amada sofrer.
- Oliver!!- Ele escutou a voz da sacerdotisa.
Safira estava com uma expressão ao mesmo tempo de raiva e dor.Já puxando
o arco. As manchas cor de carmim por todo o seu corpo revelavam o contraste que
o sangue fazia com seu vestido branco. Os seus cabelos negros já não estavam
presos a um rabo de cavalo como de costume. Agora estavam soltos, e balançavam
com ajuda do vento.
- Mas o que acont- Oliver estava assustado. Quem poderia ter ferido a sua
amada tão gravemente? Com certeza esse alguém não sairia ileso quando ele o
encontrasse.
-Miserável!! Eu nunca vou te perdoar por isso- lágrimas brotavam dos
olhos da garota e caiam como uma cascata. Ela agonizou. A parte de cima do seu
vestido que antes era branca estava vermelha por completo. O sangue não parava
de jorrar. E a dor ela não parava de sentir.
- Mas o que foi que eu- Oliver não estava entendendo nada. Ele não seria
capaz de fazer aquilo com a mulher de sua vida. Nunca.
- Cala a boca! – Safira então disparou a flecha que atingiu o peito do
garoto, fazendo com que ele ficasse unido à árvore. A dor que Oliver sentira
fora tão intensa que ele não era capaz de gritar. Em poucos segundos, o rapaz
de olhos âmbar caiu num sono profundo.
*******************************
-O jantar já está pronto!- A garota ruiva tirou Oliver de
seus pensamentos. Ele olhou para baixo da árvore e viu que ela não estava mais
usando aquelas roupas estranhas. O vestido longo azul e preto com mangas
compridas e largas e um detalhe de enlaçados azuis sobre o negro do decote
haviam deixado Agnes belíssima.
-Achei que não fosse bem-vindo por aqui. Porque me
ofereceriam comida?- Oliver perguntou, ainda encima da árvore.
- A Camélia mesma pediu para que te chamasse. Acho que ela
não está mais brava com você...-Agnes respondeu.
- Diga que não estou com fome.- Respondeu Oliver friamente.
Ele estava abalado demais para comer. Toda a tristeza que sentia por ter perdido
Safira acabava com o seu apetite.
Agnes estava se sentindo mal em vê-lo assim. Ela também
estava curiosa para saber qual era a sua relação com a tal Safira. E também por
que ele tivera aquela reação pela ruiva se parecer tanto com ela.
- A Safira era muito importante para você...- Começou Agnes.
Oliver olhou para ela surpreso- Não é?
Oliver ficou em silêncio. Sério, ele virou para o lado
oposto.
- Eu também sei como é perder alguém que amamos...-Agnes
tentou conforta-lo.- Eu perdi o meu melhor amigo no ano passado. Ele tinha
câncer. Não sei se essa doença existe nessa era, mas é um mal terrível.
-Hummm- Murmurou Oliver. Ele sentiu seu corpo arrepiar
quando sentiu as mãos delicadas da garota o abraçarem por trás. “Quando essa
garota subiu aqui?”- O que você está fazendo?
-Vamos comer. Tenho certeza de que se a Safira estiver te
vendo de lá de cima, ela quer que você seja forte!-A ruiva sorriu.
Vendo que ela não iria desistir, Oliver desceu da árvore.
*********************************
Apesar da comida ser simples, o cheiro estava delicioso. Com
a ajuda de Agnes, Camélia havia feito uma deliciosa sopa de frango com legumes,
usando as melhores ervas e temperos cultivados pelos agricultores do vilarejo.
Em uma pequena mesa redonda de madeira com quatro cadeiras, estavam sentadas as
duas moças. Oliver estava em pé com os braços cruzados.
-Vamos garoto, sente para comer! Você nunca vai conseguir
segurar uma tigela quente de sopa em pé!- Camélia já havia perdido a paciência.
- Ora ora, até ontem eu não era bem-vindo, e agora a velhota
me oferece uma sopinha...- Disse Oliver, irônico. Camélia revirou os olhos.
-Eu não vou perder meu tempo discutindo com você, Oliver. Se
não quiser comer, não coma. Eu tenho coisas muito importantes para conversar
com você.- A grisalha ficou séria.
- Não quero saber de baboseiras vindas de uma velha gagá.-
Respondeu Oliver, grosseiro. Agnes estava ficando incomodada com a falta de
respeito dele para com Camélia.
- É sobre a pedra sagrada. E também sobre a minha irmã.-
Camélia começou e Oliver ficou atento.
- Vamos logo, velha, diga!
-No dia que a minha irmã morreu, antes dela partir, ela
pediu para que a pedra fosse enterrada junto com ela. E assim nós fizemos.
Agnes ouvia tudo, atenta.
-Ela acreditava que a pedra, assim como ela, fosse
desaparecer. E assim, o mundo viveria em paz pois não haveriam mais guerras
pela posse da pedra. Além disso, a Safira, como guardiã da pedra sagrada, era a
única capaz de purifica-la. Se alguém corrompesse a pedra o mundo viveria nas
sombras, pois sem Safira a energia maligna nunca poderia ser derrotada.
-Mas, exatamente um mês depois de Safira ter sido enterrada,
uma luz muito forte começou a sair de dentro do túmulo. Assustados, nós,
moradores dessa aldeia, fomos ver do que se tratava. A pedra sagrada estava
flutuando, e palpitava como se fosse quebrar. Em segundos ela se reduziu em pedaços,
que se espalharam por todo o mundo. Eu era muito pequena na época, mas agora
entendo que, além de se espalhar por esse mundo, os fragmentos também foram
parar em outra dimensão.
Ao ouvir que os fragmentos da pedra sagrada viajaram para
outra dimensão, Agnes lembrou que Akira estava à procura de um fragmento que
supostamente estava dentro dela. Então a dakarian de fogo estava falando a
verdade, Agnes estava mesmo com um fragmento.
- E esse fragmento está dentro de mim...-Agnes se
pronunciou. Camélia e Oliver a encararam.- Não é?
- Sim. Eu posso sentir a energia dele quando olho para os
seus olhos. Ele está no olho direito.- Camélia tocou o rosto da jovem carinhosamente.-
Você tem a mesma energia espiritual que a minha irmã Safira. A sua energia é
tão pura que a pedra não se corrompeu mesmo estando dentro de seu corpo. Em que
dia você nasceu?
- Dezoito de agosto.- Respondeu a ruiva.
Camélia arregalou os olhos. Oliver apenas observava, calado.
-A minha amada irmã morreu exatamente nesse dia. Você é
igualzinha a ela. Se não fosse pela cor do seu cabelo, diriam que eram a mesma
pessoa.
Agnes ficou levemente incomodada. Já estava cansada de ser
comparada a Safira, como se fosse uma simples cópia barata da mesma.
- Eu posso parecer com ela, mas somos pessoas diferentes. Do
jeito que vocês falam parece que eu sou a reencarnação da Safira. – Disse
Agnes, emburrada.
- Você é exatamente isso. Você nasceu no mesmo dia em que
ela faleceu, possui os mesmos poderes e a mesma aparência. Você possui a mesma
alma de minha irmã. Não há dúvida.- Camélia estava feliz. Era como se pudesse
ter a sua irmã consigo de novo. Oliver estava abismado.
Agnes viu então que Camélia estava certa. Não havia outra
explicação. No entanto, aquilo a incomodava. E muito. Era como se as pessoas
não a vissem como Agnes, mas como a Safira de volta ao mundo dos vivos.
- Mudando de assunto, como vamos fazer para tirar o
fragmento de dentro de mim? Acho perigoso eu andar por aí com um fragmento no
meu corpo, vai que outro monstro resolve me matar para pegá-lo!-Agnes estava
preocupada. Tinha que haver um jeito de retira-lo sem que a ferissem.
-Eu posso resolver isso. Oliver, saia da casa por alguns
instantes. A sua energia maligna pode acabar corrompendo a pedra e não queremos
que isso aconteça. – Disse Camélia.
Oliver obedeceu saindo pela porta.
-Abra bem os olhos.
Em questão de minutos camélia já tinha o fragmento brilhando
em suas mãos. Agnes coçou os olhos, pois sentira uma leve coceira por conta do
poder espiritual lançado em sua pupila. Ele era minúsculo, feito um grão de
arroz. Mas o seu poder era de uma imensidão a qual Agnes nem podia imaginar.
- Vou colocá-lo aqui dentro.- Agnes lembrou do pingente do
colar que seu pai havia lhe dado.
Horas depois todas as lamparinas de apagaram e as casas
adormeceram, sob o olhar guardador das estrelas.
***********************************
Agnes:
Estava frio naquela noite e mesmo a Camélia tendo me dado um
cobertor de lã bem grosso para me agasalhar eu ainda sentia os meus ossos
tremerem. Eu estava começando a me acostumar com aquele lugar, já que havia uma
possibilidade de eu viver ali pelo resto da vida. Pelo menos os aldeões
gostaram de mim e a Camélia, por eu ser “ igualzinha” a sua querida irmã,
gostou mais ainda.
Depois de muito tempo tentando achar uma posição confortável
para dormir naquela cama dura demais, eu consegui fechar os olhos e adormecer. Contudo,
o meu sono não durou muito. Acordei assustada com um grito de dor misturado com
um barulho de coisas caindo.
- Colar maldito! A minha mão está ardendo!-Assim que acendi
uma vela a fim de iluminar o ambiente vi Oliver Assoprando a mão e olhando para
o colar que papai havia me dado.
- Posso saber porque o senhor estava mexendo no meu
colar?!-Perguntei irritada. Aquele colar era muito importante para mim, era a
única lembrança que eu tinha da minha família.
- Ele estava tentando roubar o fragmento que está dentro do
pingente.- De repente pude ver Camélia aparecer segurando uma vela. Oliver a
olhava com raiva e ela como se já imaginasse que ele fosse fazer aquilo.-Eu já
imaginava que você fosse fazer isso, por isso tomei as minhas providências.
-Que raios você fez então, velha maldita?!-Oliver bradou,
irritado. Camélia começou a rir- Ora velhota, pare de rir e fale de uma vez!
- Apenas olhe para o dedo anelar de cada uma de suas mãos.-
Respondeu camélia.
Quando olhei para as mãos de Oliver, vi que, em cada dedo
anelar, havia um anel preto. Mas como dois simples anéis impediriam que ele
roubasse o fragmento? Ele não poderia simplesmente tirá-los?
-Não adianta, você nunca vai conseguir tirar. O encantamento
dos anéis impede que qualquer força ou pessoa consiga removê-lo.- Explicou
Camélia enquanto Oliver tentava puxar os anéis de todas as formas. Quando os
seus dedos ficaram roxos e feridos, ele desistiu.
- Maldição! Porque você fez isso, Camélia? Nenhuma de vocês
precisa dos fragmentos, eu preciso! Eu quero completar a pedra para...
-Para se tornar um dakarian completo, sim, eu sei disso. Eu
quero que você entenda que, sem Agnes, será impossível reunir os fragmentos.
Como reencarnação da minha irmã,Safira, ela é a única que pode sentir a
presença dos fragmentos à distância e purifica-los. O destino escolheu que
vocês embarcassem juntos na missão de completar a pedra sagrada.
-Mas eu não posso ficar aqui para sempre! Eu tenho uma
família e uma faculdade lá na minha era!-
Eu entrei em desespero.
- Não se preocupe, você conseguirá ir e voltar quando
quiser, desde que esteja com fragmentos da pedra.- Respondeu Camélia. Agnes
ficou aliviada.
E ela não via a hora de voltar,
assim que o sol nascesse.